sexta-feira, 11 de novembro de 2016

COLUNISTA VIP:



TRUMP E O EXTERMÍNIO DOS ÍNDIOS
Jeremias Macário - macariojeremias@yahoo.com.br
  Não sou cientista político nem profeta das catástrofes e das lamentações, apesar do nome, mas previ no decorrer da sua campanha, através do seu discurso agressivo e conservador, que o Donald Trump seria eleito presidente dos Estados Unidos. Além de a adversária Hillary Clinton ser fraca, ele despertou a maioria raivosa, arrogante e prepotente saudosista dos fortes e infantarias de exterminadores de índios.
 O voto secreto serve para revelar a índole do politicamente incorreto da voz daqueles que só expõem suas ideologias xenófobas, homofóbicas e racistas em quatro paredes. Depois do ocorrido aparece nas ruas o barulho dos silenciosos que preferiram não acreditar que o discurso extremista venceria. O fenômeno da ressaca do outro dia em forma de protesto se repetiu nulo mais uma vez como na Inglaterra quando o sim decidiu pela saída do país da União Europeia.
  O Trump parece com uma das personagens saída de dentro do livro “Enterrem Meu Coração na Curva do Rio”, de Dee Brown, que dizimava os índios comas baionetas e as patas dos seus cavalos, só que agora na figura dos latinos imigrantes e dos mulçumanos. Bem, o “general” já tem sua fortaleza, mas quero mesmo falar dos nossos extintos tupis-guaranis, dos tapuias, tupinambás, camacans, pataxós, imborés, mongoiós, tapajós e outras tribos que foram escravizadas, massacradas e perderam suas terras.
A impressão que se tem hoje no Brasil, especialmente na Bahia, é de uma só nação afrodescendente sem vestígios indígenas, europeia, árabe moura, cigana e judia. Quando aqui desembarcou a nau Cabrália com seus degredados, malfeitores, renegados e cristãos novos judeus, há mais de 500 anos,os primeiros contatos foram com os negros africanos praticando o autêntico candomblé e seus rituais de magias, cercados de seus orixás.
Somente adentrando a floresta litorânea e o sertão profundo descobriu-se alguns índios perdidos com os quais os povos brancos e moçárabes não tiveram relações íntimas, nem tampouco se deixaram contaminar pelas suas culturas, costumes, seus deuses e seus modos de se vestir e se alimentar. Esses estranhos à terra nativa foram logo eliminados como animais perigosos à sobrevivência dos novos conquistadores.
Não entendo tanto menosprezo se a nossa origem é muito mais índia que afro. A escravidão perpetrada contra os índios não conta? Pouco se fala na mídia e em outros meios orais, materiais e imateriais sobre a descendência ameríndia, indo-europeia e coisa assim. Não existe mais língua tupi-guarani, nem religião aos seus deuses,e o dia comemorativo ao índio nem mais se celebra, pois caiu no total esquecimento. Só existe consciência negra e o dia do Zumbi dos Palmares.
Na imprensa escrita em geral muita falação e comentários sobre afrodescendentes, racismo, escravidão, reparação, cotas, expressão cultural e quase nada sobre as nações indígenas. O quê foi feito delas ao longo dos séculos e o quê ainda resta? Pouco ou quase nenhum espaço e colunas para os defensores, representantes legítimos da terra e os estudiosos no assunto.
  Os alimentos derivados da mandioca e do milho, por exemplo, mais parecem originários dos africanos que dos índios das Américas. Não existe espaço nesta mídia escrita para o candomblé caboclo, o guisado da caça, o assado da pesca, a canoa, a jangada, o arco, a flecha, nem destaque para os chefes caciques, grandes feiticeiros, guerreiros e curandeiros heróis de suas nações e tribos que lutaram em defesa de seus povos.
  Será que somos apenas afrodescendentes, os quais merecem toda atenção e respeito pelas suas expressões culturais? E a nação indígena que é pouco valorizada? Tais quais os negros, os conquistadores, desbravadores e até os jesuítas catequizadores tinham dúvida e diziam que os índios selvagens não tinham nem alma e assim podiam ser escravizados e assassinados.
 Cuidado, porque o Brasil está repleto de trumps que comungam de suas mesmas ideias! Para confirmar, basta uma votação secreta numa urna manual ou digital que guarda sigilosamente pensamentos e visões comunitárias distorcidas, discriminatórias e preconceituosas que só são ditas e faladas em quatro paredes a prova de bala e som.
  Os nossos índios já se foram na poeira do tempo, pisoteados pelos cascos dos colonizadores impiedosos, e o mundo agora caminha a passos largos para o retrocesso do extremismo conservador como o nosso país. Não adianta depois levantar de ressaca para protestar. A alma tem que estar sempre vigilante para não ser pega de surpresa e depois dizer que não esperava pela avalanche ou pelo tsunami. Outros trumps estão chegando com as promessas de salvação.

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