TRUMP E O EXTERMÍNIO DOS ÍNDIOS
Jeremias Macário - macariojeremias@yahoo.com.br
Não sou cientista político nem profeta das
catástrofes e das lamentações, apesar do nome, mas previ no decorrer da sua
campanha, através do seu discurso agressivo e conservador, que o Donald Trump
seria eleito presidente dos Estados Unidos. Além de a adversária Hillary
Clinton ser fraca, ele despertou a maioria raivosa, arrogante e prepotente
saudosista dos fortes e infantarias de exterminadores de índios.
O voto secreto serve para revelar a índole do
politicamente incorreto da voz daqueles que só expõem suas ideologias xenófobas,
homofóbicas e racistas em quatro paredes. Depois do ocorrido aparece nas ruas o
barulho dos silenciosos que preferiram não acreditar que o discurso extremista
venceria. O fenômeno da ressaca do outro dia em forma de protesto se repetiu nulo
mais uma vez como na Inglaterra quando o sim decidiu pela saída do país da União
Europeia.
O Trump parece com uma das personagens saída
de dentro do livro “Enterrem Meu Coração na Curva do Rio”, de Dee Brown, que dizimava os índios comas baionetas e as patas
dos seus cavalos, só que agora na figura dos latinos imigrantes e dos
mulçumanos. Bem, o “general” já tem sua fortaleza, mas quero mesmo falar dos
nossos extintos tupis-guaranis, dos tapuias, tupinambás, camacans, pataxós, imborés, mongoiós, tapajós e outras tribos que foram escravizadas, massacradas
e perderam suas terras.
A impressão que se tem
hoje no Brasil, especialmente na Bahia, é de uma só nação afrodescendente sem
vestígios indígenas, europeia, árabe moura, cigana e judia. Quando aqui desembarcou
a nau Cabrália com seus degredados, malfeitores, renegados e cristãos novos
judeus, há mais de 500 anos,os primeiros contatos foram com os negros africanos
praticando o autêntico candomblé e seus rituais de magias, cercados de seus orixás.
Somente adentrando a
floresta litorânea e o sertão profundo descobriu-se alguns índios perdidos com
os quais os povos brancos e moçárabes não tiveram relações íntimas, nem
tampouco se deixaram contaminar pelas suas culturas, costumes, seus deuses e seus
modos de se vestir e se alimentar. Esses estranhos à terra nativa foram logo
eliminados como animais perigosos à sobrevivência dos novos conquistadores.
Não entendo tanto
menosprezo se a nossa origem é muito mais índia que afro. A escravidão
perpetrada contra os índios não conta? Pouco se fala na mídia e em outros meios
orais, materiais e imateriais sobre a descendência ameríndia, indo-europeia e
coisa assim. Não existe mais língua tupi-guarani, nem religião aos seus deuses,e
o dia comemorativo ao índio nem mais se celebra, pois caiu no total
esquecimento. Só existe consciência negra e o dia do Zumbi dos Palmares.
Na imprensa escrita em
geral muita falação e comentários sobre afrodescendentes, racismo, escravidão,
reparação, cotas, expressão cultural e quase nada sobre as nações indígenas. O quê
foi feito delas ao longo dos séculos e o quê ainda resta? Pouco ou quase nenhum
espaço e colunas para os defensores, representantes legítimos da terra e os
estudiosos no assunto.
Os alimentos derivados da mandioca e do
milho, por exemplo, mais parecem originários dos africanos que dos índios das
Américas. Não existe espaço nesta mídia escrita para o candomblé caboclo, o
guisado da caça, o assado da pesca, a canoa, a jangada, o arco, a flecha, nem
destaque para os chefes caciques, grandes feiticeiros, guerreiros e curandeiros
heróis de suas nações e tribos que lutaram em defesa de seus povos.
Será que somos apenas afrodescendentes, os
quais merecem toda atenção e respeito pelas suas expressões culturais? E a nação
indígena que é pouco valorizada? Tais quais os negros, os conquistadores,
desbravadores e até os jesuítas catequizadores tinham dúvida e diziam que os
índios selvagens não tinham nem alma e assim podiam ser escravizados e
assassinados.
Cuidado, porque o Brasil está repleto de
trumps que comungam de suas mesmas ideias! Para confirmar, basta uma votação
secreta numa urna manual ou digital que guarda sigilosamente pensamentos e
visões comunitárias distorcidas, discriminatórias e preconceituosas que só são ditas
e faladas em quatro paredes a prova de bala e som.
Os nossos índios já se foram na poeira do
tempo, pisoteados pelos cascos dos colonizadores impiedosos, e o mundo agora caminha
a passos largos para o retrocesso do extremismo conservador como o nosso país.
Não adianta depois levantar de ressaca para protestar. A alma tem que estar
sempre vigilante para não ser pega de surpresa e depois dizer que não esperava
pela avalanche ou pelo tsunami. Outros trumps estão chegando com as promessas
de salvação.
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