Um pouco de
história
Nando da Costa Lima
Esta
história quem me contou foi meu pai, que já havia escutado este caso narrado
por meu avô. Faz um tempão, já virou história...
Em 1910,
quando o marechal Hermes da Fonseca era Presidente da República, houve na Bahia
um golpe de Estado, se é que assim podemos chamar, isto fica por conta da sua
interpretação. Para mim, foi um golpe de telegrama. O governador baiano não era lá um homem que se pudesse chamar de brilhante,
grande estadista ou coisa parecida. Um outro político baiano, Dr. Seabra,
ciente da situação resolveu tomar o seu lugar, aproveitando a viagem do seu
compadre Manoel Hermes ao RJ (à época, capital federal). Pediu pra que este
telefonasse de lá para ele com os seguintes dizeres “Caro Seabra, conto com
você para tomada do governo”, e colocasse no prenome só a inicial, o sobrenome
colocaria normalmente, ficando assim: M. Hermes, a mesma forma que o Marechal
Hermes assinava. O golpista, ao receber o telegrama, se dirigiu a um general
tão “esclarecido” quanto o então governador e apresentou o documento. O militar
quando leu, pensando em seu futuro como amigo particular do substituto, ficou
sem saber como tomaria o governo sem agravar a situação. Dr. Seabra então
sugeriu que ele desse um tiro de canhão pra intimidar e em seguida pedisse ao
governador que assinasse um documento abdicando do cargo. E não deu outra
coisa, foi dito e certo. Dr. Seabra então, já de posse do documento, telegrafou
pro presidente falando que o atual governador havia se demitido do cargo mas
que ele já tinha assumido e dava total apoio à política do presidente. E foi
assim que Dr. Seabra governou a Bahia. Rui Barbosa, opositor ao governo da
época, escreveu um artigo intitulado “Caim, cara de bronze”, no qual ele
acabava com a raça do governador Seabra. Mas isto não adiantou, e o Dr. Seabra
permaneceu como mandão da terra, e numa de suas viagens pelo interior, ao
acabar um discurso de inauguração o prefeito da cidade, para mostrar que
acompanhava os acontecimentos, levantou e gritou crente de que estava fazendo o
maior dos elogios: “Viva o governador, o Caim cara de bronze”. O governador
entendeu que aquilo saiu como elogio, agradeceu a intenção e pediu que ele não
repetisse.
Trinta anos
depois o telegrafo foi novamente protagonista de outra história envolvendo um
político. Foi um presidente que vinha de avião visitar o Nordeste em campanha,
iria entrar em contato só com poucos chefes políticos, queria segredo e pediu
que um de seus assessores se comunicasse com a Bahia avisando que ele estava
chegando. Foi aí que o assessor deu um show telegrafando “disfarçadamente”:
“Pássaro de ferro pousará amanhã levando grande chefe”.
Hoje ninguém
mais usa telegrafo, o mundo tá todo conectado. Nem nossos políticos se
preocupam com xingamentos e gafes. Também, hoje você peida no quarto e vai
feder na praça, é a tecnologia.
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