sábado, 8 de outubro de 2016

COLUNISTA VIP:



Um pouco de história
 Nando da Costa Lima



            Esta história quem me contou foi meu pai, que já havia escutado este caso narrado por meu avô. Faz um tempão, já virou história...
            Em 1910, quando o marechal Hermes da Fonseca era Presidente da República, houve na Bahia um golpe de Estado, se é que assim podemos chamar, isto fica por conta da sua interpretação. Para mim, foi um golpe de telegrama. O governador baiano não era lá um homem que se pudesse chamar de brilhante, grande estadista ou coisa parecida. Um outro político baiano, Dr. Seabra, ciente da situação resolveu tomar o seu lugar, aproveitando a viagem do seu compadre Manoel Hermes ao RJ (à época, capital federal). Pediu pra que este telefonasse de lá para ele com os seguintes dizeres “Caro Seabra, conto com você para tomada do governo”, e colocasse no prenome só a inicial, o sobrenome colocaria normalmente, ficando assim: M. Hermes, a mesma forma que o Marechal Hermes assinava. O golpista, ao receber o telegrama, se dirigiu a um general tão “esclarecido” quanto o então governador e apresentou o documento. O militar quando leu, pensando em seu futuro como amigo particular do substituto, ficou sem saber como tomaria o governo sem agravar a situação. Dr. Seabra então sugeriu que ele desse um tiro de canhão pra intimidar e em seguida pedisse ao governador que assinasse um documento abdicando do cargo. E não deu outra coisa, foi dito e certo. Dr. Seabra então, já de posse do documento, telegrafou pro presidente falando que o atual governador havia se demitido do cargo mas que ele já tinha assumido e dava total apoio à política do presidente. E foi assim que Dr. Seabra governou a Bahia. Rui Barbosa, opositor ao governo da época, escreveu um artigo intitulado “Caim, cara de bronze”, no qual ele acabava com a raça do governador Seabra. Mas isto não adiantou, e o Dr. Seabra permaneceu como mandão da terra, e numa de suas viagens pelo interior, ao acabar um discurso de inauguração o prefeito da cidade, para mostrar que acompanhava os acontecimentos, levantou e gritou crente de que estava fazendo o maior dos elogios: “Viva o governador, o Caim cara de bronze”. O governador entendeu que aquilo saiu como elogio, agradeceu a intenção e pediu que ele não repetisse.
            Trinta anos depois o telegrafo foi novamente protagonista de outra história envolvendo um político. Foi um presidente que vinha de avião visitar o Nordeste em campanha, iria entrar em contato só com poucos chefes políticos, queria segredo e pediu que um de seus assessores se comunicasse com a Bahia avisando que ele estava chegando. Foi aí que o assessor deu um show telegrafando “disfarçadamente”: “Pássaro de ferro pousará amanhã levando grande chefe”.
            Hoje ninguém mais usa telegrafo, o mundo tá todo conectado. Nem nossos políticos se preocupam com xingamentos e gafes. Também, hoje você peida no quarto e vai feder na praça, é a tecnologia.

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