Raizêro
Nando
da Costa Lima
Era
uma vez um fada catingueira que se apaixonou pela poesia de um cego “cantadô” de feira, e para eternizá-lo resolveu que
daquele dia em diante toda criança que nascesse no sertão da ressaca, mesmo não
sendo “cantadô”, teria aqueles versos no sangue. E assim vieram os
“raizêros”...
Segundo
os dicionários, RAIZEIRO (com “i” na segunda sílaba) é o curandeiro que trata
com raízes vegetais ou um grupo de raízes entrelaçadas ou o que resta de uma
árvore cortada rente ao solo. Mas o termo “RAIZÊRO” a que me refiro ainda não
se encontra nos dicionários, é um termo genuinamente conquistense. Antes era
usado de maneira preconceituosa para identificar nossos artistas, hoje é uma
realidade e Conquista teve a sorte de ser um habitat natural de “raizêros”.
Graças a eles nossa cidade é uma das poucas do País (talvez do mundo) que tem
seu estilo próprio em todas as manifestações artísticas. Nós fazemos tudo à
nossa maneira e fazemos bem. Conquista é terra de artistas, de bons artistas,
gente que se manifesta das mais variadas formas, mas todos sem fugir do estilo
conquistense, um estilo “raizêro”. Uma maneira sutil de fazer arte sem
direcionar às classes. Nossa música, nossa pintura, nossa poesia, tudo que
criamos é assimilado por todas as camadas sociais (se é que gente
tem camada). Quem mais cultiva o estilo “raizêro” são os nossos músicos, e é
natural que sejam que influenciados pelo trabalho de Elomar Figueira. Sendo um
estilista, ele consegue fundir o popular ao clássico de maneira única. É um
desses raros poetas que encaixam a poesia na música simetricamente e
“raizeramente”, agradando da classe A à Z. Por isso, não há imitação. Existe
apenas a assimilação de um estilo musical, um ótimo estilo musical.
“O
horizonte é uma lista/ que iludindo minha vista/ parece o mundo beijar”. Estes
versos do poeta Maneca Grosso mostra que ele também era um “raizêro”, gostava
de frisar o seu amor por Conquista, e sempre a viu com olhos de “raizêro”. E,
na sua época, seus versos eram tão populares ao conquistense como hoje é a
música. O conquistense quando, não é artista, gosta de arte! Aqui vale a pena
produzir! Não se ganha dinheiro, mas o retorno do público, quando você faz um
bom trabalho, supera qualquer salário. Nossa gente não elogia o razoável e isto
contribui para mantermos um bom padrão mesmo sem o apoio dos “órgãos
culturais”. Ainda bem que o artista “raizêro” é como feijão “catadô”. e resiste
ao tempo duro.
Tenho
certeza de que Conquista ainda chamará a atenção nacional artisticamente. E não
será através de um ou de meia dúzia de filhos ilustres, será no seu geral: sua
história, sua gente, e principalmente, sua música que a cada dia se lapida
mais. Nossa história é tão rica que serão necessárias várias gerações para
conta-la. Anibal Lopes Viana, um jornalista “raizêro”, foi quem primeiro se
tocou com a história da terra dos Mongoiós. Sua obra é um marco para a
literatura conquistense, uma fonte de pesquisa para qualquer trabalho
relacionado à história da cidade. Falta-nos assumir o termo “raizêro” como
aquele que se manifesta artisticamente de acordo com suas raízes culturais, e
pintar, esculpir, escrever, representar e cantar tudo que diz respeito à nossa
terra. Será lindo escutar um artista falar para o mundo que o seu estilo é puramente
conquistense.
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