quarta-feira, 26 de outubro de 2016

COLUNISTA VIP:

Pobre futebol de Conquista
Carlos Albán González
O jogo tinha o rótulo de decisão. O Vitória da Conquista precisava vencer para passar às semifinais da Copa Governador do Estado, um torneio tipo caça-níquel, organizado pela Federação Bahiana de Futebol (FBF), para enganar os clubes chamados de pequenos, que passam o ano todo de “pires na mão”, buscando uns trocados. Numa tarde fria, com ameaça de chuvas, o Estádio Lomanto Júnior recebeu apenas 1.430 torcedores, que saíram satisfeitos com a goleada de 7 a 2  infligida ao Teixeira de Freitas, deixando nas bilheterias a insignificante quantia de R$ 3.915.

Tanto na política quanto no futebol, uma considerável legião de nordestinos troca o duvidoso pelo certo. Aqui, em Vitória da Conquista, por exemplo, deixando de lado a sucessão municipal, encaro como um absurdo trocar o verde e branco, as cores da cidade, pelo vermelho e preto, a linha do orixá Exu. Programar uma partida para o Lomantão, no mesmo horário em que a TV aberta mostra Flamengo x Corinthians, direto do reformado Maracanã, onde o rubro-negro briga pela liderança do Campeonato Brasileiro, é como apostar no prejuízo.

Da arrecadação de domingo passado no Lomantão, o famigerado time das despesas, que inclui até lanche para os policiais, que, por obrigação, devem manter a segurança dos eventos públicos, ficou com R$ 4.607. O Vitória da Conquista, detentor de quatro títulos do torneio, a grande atração do espetáculo, teve um prejuízo de R$ 796,85, que, somado aos R$ 266,80 do jogo anterior com o Fluminense de Feira de Santana, dá um total de R$ 1.063,65. Estou deixando de computar, porque me faltam dados, as despesas do jogo fora contra o Cajazeiras, além de transporte, alimentação, concentração, medicamentos e gratificação dos jogadores.

As reclamações dos dirigentes do Conquista são as mesmas dos outros participantes da Copa Governador do Estado: Fluminense, Jacuipense, Jacobina (classificados para as semifinais), Atlântico, Atlético de Alagoinhas, Cajazeiras e Teixeira de Freitas. O presidente do clube conquistense, Ederlane Amorim, numa entrevista ao “Bahia Notícias”, admite falta de divulgação do torneio. ” Jornais, TVs e rádios dedicam 90% dos seus noticiários a Bahia e Vitória”, observando que, “sem contabilizar o jogo de domingo último, o prejuízo já era de R$ 7 mil”.

O presidente do Atlântico, recém-promovido à 1ª Divisão do futebol baiano, também não poupou críticas à dupla  Ba-Vi, afirmando que “o grande só existe por conta do pequeno”. Zé Carlos recordou que o time campeão brasileiro pelo Bahia em 1988 era formado com base na Catuense.

O telefone e a internet foram os meios usados pela diretoria do Atlético para divulgar os jogos do representante de Alagoinhas. O Cajazeiras planeja colocar outdoors  nas ruas,  a fim de promover uma disputa com os promotores de cantores do axé. A direção do populoso bairro de Salvador sugere que a FBF venda a Copa,  no regime de “naming rights”, a uma grande empresa, como ocorre com o Brasileirão (nas quatro séries), a Libertadores e a Liga Espanhola. “Quatro ou cinco milhões para uma cervejaria não são nada. É o custo de três dias de carnaval”.

Na visão do presidente da FBF, Ednaldo Rodrigues, os clubes têm que atrair seus torcedores aos estádios. “Reduzimos as despesas e oferecemos uma vaga ao campeão e vice na Copa do Brasil e Brasileiro da série D de 2017. Vamos fazer reformulações para o próximo ano para que o torneio se torne mais atrativo, com possibilidade de transmissão das partidas pela televisão”, promete o “cartola”.

Procurando atenuar suas críticas à Federação, Ederlane Amorim pediu isenção das taxas de arbitragem. Na conversa com o BN admitiu que vê com pessimismo o próximo Campeonato Baiano, “sem atrativos para ninguém, até mesmo para Bahia e Vitória, mas não concordo com o fim dos estaduais, o que representaria o desaparecimento dos pequenos clubes”. disse ao BN.

Uma prova do descaso que a FBF dá à Copa Governador do Estado foi o quase adiamento de Cajazeiras x Vitória da Conquista, realizado no último dia 15, programado para o Barradão. O  porteiro tentou barrar a entrada da delegação conquistense ao estádio porque ninguém lhe avisou que haveria jogo naquela tarde.

Um dos motivos da falta de público, ignorado, propositalmente, pelos queixosos, nos jogos da Copa Governador do Estado, tem raízes culturais. Apesar das ações discriminatórias que sofre das populações do Sul e Sudeste do país, desde o advento da República, o nordestino, especialmente no futebol, coloca em segundo plano os clubes de sua região; tem preferência pela camisa do Flamengo; vai aos aeroportos receber o Vasco; e tieta, na porta dos hotéis, jogadores do Corinthians. As exceções ficam por conta dos torcedores do Remo, Paissandu, Ceará, Fortaleza, Santa Cruz, Sport, Náutico, Bahia e Vitória. Esse complexo de vira-lata já se estendeu a Cariacica (Espírito Santo) e Brasília, onde é grande a colônia de nordestinos.

Infelizmente, Vitória da Conquista não foge à regra. A cidade já teve diversos representantes no futebol do estado. Nenhum deles conseguiu se manter em atividade; o Serrano migrou para Porto Seguro. Ainda existe tempo de prestigiar o time que leva o nome da cidade. Vamos começar assistindo Vitória da Conquista x Jacuipense, dia 6 de novembro, pela semifinal da Copa Governador do Estado, aguardando, com otimismo, pelas finais nos dois domingos subsequentes.. 

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