XINGU, O
FILME NACIONAL DA DÉCADA!
Ricardo De Benedictis
O brasileiro necessita conhecer melhor o nosso país, para
não ficar apenas adstrito ao desempenho deste ou daquele governo. Os poetas e
os músicos, há muito vêm alertando sobre o desconhecimento da grande maioria da
nossa população (até mesmo, a população mais culta), quanto à necessidade de
conhecer a nós mesmos, as nossas belezas naturais, a nossa biodiversidade, as
nossas culturas regionais, o nosso litoral de águas frias , mais ao sul, mornas
e quase quentes, no nordeste.
O brasileiro tem uma espécie de complexo, que há muito
foi definido pelo grande jornalista e teatrólogo - Nelson Rodrigues como ‘complexo
tupiniquin’, lógico, sem querer com isso, desmerecer os tupiniquins. Quando
sobra algum dinheiro, um filho faz doze anos, comemora-se aniversário e outros
eventos, o que fazemos? Vamos para a Disney!!!... ‘I Love you...como foi
gostoso decorar em inglês...’ O nosso sonho de consumo turístico é assistir a
virada do ano em New York (com a temperatura abaixo de zero), sem nunca termos
provado ‘tal virada’ por aqui mesmo. E há pessoas que repetem tais viagens,
deixando bilhões de dólares no exterior, muitas dessas pessoas, comprometendo
seu salário ou rendimento pelo resto do ano.
Voltando ao filme Xingu, assistimos um filme emocionante
que conta a saga dos Villas-Boas – Orlando, Cláudio e Leonardo – que no final
da primeira metade do século XX, foram incumbidos pelo governo Vargas a abrir
caminho nas matas e cerrados para chegarem à Amazônia. O filme é maravilhoso e
merece ser assistido. A nossa juventude, viciada em novelas fajutas, games ou
em drogas, anda completamente alienada dos valores nacionais. Não desenvolvemos
ainda a cultura de enaltecer nossos valores mais caros. Se os irmãos
Villas-Boas não tivessem se sacrificado floresta adentro, quem sabe, nosso país
teria sido fatiado pelas potências estrangeiras, quiçá vendido em partes para
criação de redutos estratégicos dos países mais desenvolvidos! Não conheço uma
estátua de Orlando Villas-Boas ou do Cláudio, como não conheço bem o interior
de São Paulo, sua terra natal, pode ser que haja algo por lá. Entretanto, eles
merecem estátuas em todas as cidades, pelo menos, em todas as capitais deste
país. Lembro-me que, na Itália, encontrávamos estátuas de Giuseppe Garibaldi, o
‘grande unificador italiano’ em todas as cidades que visitamos. E os italianos
falam dele como se fala de um semi-deus. Aqui, só e exclusivamente o esporte
tem rei, imperador, príncipe, etc. Não acho errado que assim se proceda. Mas, e
os nossos heróis? Por isso, recomendo que assistam XINGU, uma produção que nos
orgulha de sermos brasileiros e que merece ser assistido como um filme épico da
maior importância, para que aprendamos a cultuar o sacrifício de grandes
patrícios para que tivéssemos uma Nação ligada de norte a sul, de leste a oeste,
com suas desigualdades que devemos combater, mas com o indissolúvel sentimento
pátrio.
Conclamo os professores de História a se compenetrarem
das suas obrigações e levarem aos seus alunos os conhecimentos históricos que
permeias nossa brasilidade, mesmo que os livros didáticos não o façam convenientemente.
Personalidades como os Villas-Boas, o Barão de Mauá, Antonio Conselheiro e a
Guerra de Canudos, o Corneteiro Lopes, Maria Quitéria e tantos outros, devem
ser difundidos para que os jovens saibam que ‘nem só de computador, game,
novelas e Disney devem viver as pessoas. Vamos conhecer mais a nossa formação
como Nação!
Retirei da Wikipédia, textos e fotos dos irmãos Villas-Boas e sua aventura, para
que os interessados possam usufruir. Até a próxima.
OS IRMÃOS
VILLAS-BOAS
Orlando,
Cláudio e Leonardo Villas Boas
Origem:
Wikipédia, a enciclopédia livre.
Irmãos Villas-Bôas
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Orlando, Leonardo e Cláudio Villas-Bôas em 1950.
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Nome completo
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Nascimento
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Nacionalidade
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Ocupação
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Os Irmãos Villas-Bôas (Orlando (1914-2002), Cláudio
(1916-1998) e Leonardo Villas-Bôas
(1918-1961), foram importantes sertanistas brasileiros.
Nascidos na cidade de Santa Cruz do Rio
Pardo, e Botucatu, interior
de São Paulo, com a morte dos pais, Agnello e
Arlinda Villas-Bôas, a cidade de São Paulo
já não os prendia. Vieram do interior paulista para a Capital, pois o pai
Agnello, advogado, havia sido convidado por um escritório do ramo. Mudaram-se
para uma pensão na rua Bento Freitas, esquina com a rua Marquês de Itu.
Índice
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Fundação Brasil Central -
Expedição Roncador-Xingu
O lançamento do plano
de ocupação do território brasileiro, a Marcha para o Oeste no 1º dia do ano de
1938, estava em completa sintonia com os mais recentes e graves acontecimentos
políticos que haviam abalado o Brasil. No dia 10 de novembro de 1937, o país
ouvira, em cadeia de rádio, a decretação do Estado Novo e Getúlio Vargas (1882-1954) permaneceria na
presidência da República até 29 de outubro de 1945. Vargas passou a governar
através de decretos-lei e mobilizou o país em uma campanha de integração
nacional: A Marcha para o Oeste. Nas palavras de Vargas, pronunciadas naquele
primeiro dia do ano:
A civilização brasileira a mercê dos fatores geográficos, estendeu-se no
sentido da longitude, ocupando o vasto litoral, onde se localizaram os centros
principais de atividade, riqueza e vida. Mais do que uma simples imagem, é uma
realidade urgente e necessária galgar a montanha, transpor os planaltos e
expandir-nos no sentido das latitudes. Retomando a trilha dos pioneiros que
plantaram no coração do Continente, em vigorosa e épica arrancada, os marcos
das fronteiras territoriais, precisamos de novo suprimir obstáculos, encurtar
distâncias, abrir caminhos e estender fronteiras econômicas, consolidando,
definitivamente, os alicerces da Nação. O verdadeiro sentido de brasilidade é a
Marcha para o Oeste. No século XVIII, de lá jorrou o caudal de ouro que
transbordou na Europa e fez da América o Continente das cobiças e tentativas
aventurosas. E lá teremos de ir buscar: — dos vales férteis e vastos, o produto
das culturas variadas e fartas; das entranhas da terra, o metal, com que forjar
os instrumentos da nossa defesa e do nosso progresso industrial.(Saudação aos Brasileiros, Pronunciado no Palácio Guanabara e Irradiada
Para Todo o País, à Meia-Noite de 31 de Dezembro de 1937)
Expedição, década de 1940.
Orlando, Cláudio e Leonardo tomaram parte desde as primeiras atividades
da vanguarda da Expedição
Roncador-Xingu criada pelo governo federal no início de 1943 com o
objetivo de conhecer e desbravar as áreas mostradas em branco nas cartas
geográficas brasileiras. O índio apareceria, mais tarde, diante da expedição
como um "obstáculo".
Posteriormente foram designados chefes da expedição. Em face disso foram
acelerados todos os trabalhos em andamento, possibilitando assim que fosse
vencida a grande e difícil etapa (Rio das Mortes - Alto Xingu).
A segunda etapa, ainda mais longa (Xingu - Serra do Cachimbo - Tapajós), deixou
no roteiro uma dezena de campos de pouso. Alguns desses campos - Aragarças, Barra do Garças, Xavantina, Xingu, Cachimbo e
Jacareacanga, foram mais tarde transformados em Bases Militares e em
importantes pontos de apoio de rotas aéreas nacionais e transcontinentais pelo
Ministério da Aeronáutica. Outros campos intermediários como o Kuluene,
Xingu, Posto Leonardo Villas-Bôas, Diauarum, Telles Pires e Kren-Akôro,
tornaram-se postos de assistência aos índios.
Leonardo, Cláudio e Orlando foram os principais idealizadores e
participaram do grupo integrado pelo Marechal Cândido
Mariano da Silva Rondon, Heloísa Alberto Torres – então diretora do Museu Nacional, Café Filho - então
vice-presidente da República, brigadeiro Raimundo Vasconcelos de Aboim, Darcy Ribeiro e José Maria da Gama Malcher -
diretor do Serviço de
Proteção aos Índios, que, pleiteou ao presidente da República a
criação do Parque Nacional do
Xingu. A criação desse parque visava a preservar a fauna e a flora
ainda intocadas da região, assim como resguardar as culturas indígenas da área.
Dessa reunião também participou o médico sanitarista Noel Nutels.
Orlando e Cláudio Villas-Bôas.
Como decorrência dos esforços envidados pelos irmãos Villas-Bôas e pelo
auxílio das personalidades citadas, foi criado, em 1961, o Parque Nacional do
Xingu, a mais importante reserva indígena das Américas.
No que tange à fauna e à flora, a reserva procuraria guardar para o
Brasil futuro um testemunho do Brasil do Descobrimento, considerando-se a
descaracterização violenta pela qual vem passando as nossas reservas naturais.
Ali, a reserva mostraria ao Sul os últimos descampados e cerrados do Brasil
Central - para através de uma transição busca, mostrar ao Norte, com toda a exuberância,
a Hileia Amazônica caracterizada pelas seringueiras, cachoeiras, castanheiras e
as gigantescas samaumeiras.
Carta de próprio punho do
Marechal Rondon para os Irmãos Villas-Bôas. O marechal só escrevia de próprio
punho para sua filha e para os Villas-Bôas. É importante atentar para o
encerramento da carta: "afetuoso abraço do velho, seu admirador Cândido
M. S. Rondon"
Por fim, cabe registrar que no roteiro das Expedição Roncador-Xingu,
órgão da vanguarda da Fundação Brasil Central, em toda a sua extensão entre os
Rios Araguaia e Mortes, Mortes e Kuluene (região da Serra do Roncador),
Kuluene-Xingu (abrangendo extenso vale), Xingu-Mauritsauá (cobrindo ampla
região do Rio Teles Pires ou São Manuel, alcançando, ainda, a encosta e o alto
da Serra do Cachimbo, nasceram mais de quarenta municípios e vilas,
quatro bases de proteção de voo do Ministério da Aeronáutica, dentre as quais
se destaca a Base da Serra do Cachimbo.
A permanência efetiva dos irmãos Villas-Bôas na área do sertão foi de 42
anos.
A política indigenista
proposta pelos irmãos Villas Bôas
O posicionamento dos irmãos Villas Bôas acerca da política indigenista
brasileira, foi tributário das idéias do Marechal Rondon. Nesse sentido,
mostrou-se pautado por uma intensa preocupação protecionista e preservacionista
relativamente aos povos indígenas, procurando, contudo, interferir o mínimo
possível na vida e na organização social desses povos. Foi com base nessas
premissas que eles conduziram pacificamente o contato com todas as tribos
indígenas da região do Xingu e lá implantaram uma reserva (Parque Indígena do
Xingu), cuja intenção básica foi proteger e resguardar os povos indígenas
xinguanos de contatos indiscriminados com as frentes de penetração de nossa
sociedade.
Trata-se de um posicionamento que, em linhas gerais, caminha no sentido
da orientação pacifista rondoniana, mas que, entretanto, não se restringe a
ela, pois a perspectiva dos Villas Bôas não visava mais a pacificação dos
índios com vistas a transformá-los em trabalhadores rurais. Ao contrário, a
partir dos contatos e das relações privilegiadas que tiveram com as populações
indígenas do Xingu, os irmãos Villas Bôas puderam apreender toda a riqueza
cultural das mesmas, o que os levou a defender não apenas a sua integridade
física, mas também sua integridade cultural.
Conforme enfatiza Darcy Ribeiro, “os Villas Bôas dedicaram todas as
suas vidas a conduzir os índios xinguanos do isolamento original em que os
encontraram até o choque com as fronteiras da civilização. Aprenderam a
respeitá-los e perceberam a necessidade imperiosa de lhes assegurar algum
isolamento para que sobrevivessem. Tinham uma consciência aguda de que, se os
fazendeiros penetrassem naquele imenso território, isolando os grupos indígenas
uns dos outros, acabariam com eles em pouco tempo. Não só matando, mas
liquidando as suas condições ecológicas de sobrevivência.” (RIBEIRO, Darcy.
Confissões. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 194)
O antropólogo americano Shelton Davis, ao analisar os dois principais
modelos de política indigenista que se confrontaram no Brasil durante a segunda
metade do século XX, ressalta:
“when the Brazilian National Indian
Foundation (FUNAI) was created in 1967, two opposing models of Indian policy
existed in Brazil. One of these models, which was radically protectionist in nature,
was developed by Orlando, Claudio, and Leonardo Villas Boas in the Xingu
National Park. According to this model, Indians tribes should be protected by
the federal government from frontier encroachments in closed Indian parks and
reserves, and be prepared gradually, as independent ethnic groups, to integrate
into the wider society and economy of Brazil. In opposition to the Villas Boas
brothers’ philosophy was a second model of Indian policy that was developed by
the Brazilian Indian Protection Service in the final years of its existence and
later assumed by FUNAI. This model was developmentalist in nature and was based
on the premise that Indian groups should be rapidly integrated, as a reserve
labor force or as producers of marketable commodities, into the expanding
regional economies and rural class structures of Brazil.” (DAVIS, Shelton. Victims of the miracle. New York: Cambridge
University Press, 1977, p. 47-48.
"Quando a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) foi criada em 1967,
dois modelos opostos de uma política indigenista existiam no Brasil. Um desses
modelos, que era radicalmente protecionistas na natureza, foi desenvolvido por
Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Boas no Parque Nacional do Xingu. Segundo
este modelo, as tribos indígenas devem ser protegidos pelo governo federal a
partir de invasões na fronteira fechada, parques indígenas e reservas, e estar
preparado gradualmente, como independente, grupos étnicos, para se integrarem
na sociedade em geral e a economia do Brasil. Em oposição à filosofia dos
irmãos Villas Boas era um segundo modelo de política indigenista que foi
desenvolvido pelo Serviço de Proteção ao Índio Brasileiro nos últimos anos de
sua existência e, posteriormente, assumido pela FUNAI. Este modelo foi
desenvolvimentista na natureza e foi baseada na premissa de que os grupos
indígenas devem ser rapidamente integrados, como força de trabalho de reserva
ou como produtores de bens transaccionáveis, nas economias em expansão regional
e rural, estruturas de classe do Brasil. "(DAVIS, Shelton. Vítimas do
milagre de Nova York:. Cambridge University Press, 1977
Os irmãos Villas Bôas sustentavam uma política indigenista fundada em
dois princípios básicos: a)os índios só sobrevivem em sua própria cultura; b)os
processos integrativos ocorridos historicamente no Brasil teriam, via de regra,
conduzido à desagregação das comunidades indígenas e não à sua efetiva
participação em nossa sociedade. No prefácio da versão inglesa de seu livro
Xingu: os índios, seus mitos, Cláudio e Orlando Villas Bôas afirmavam que: “In
our modest opinion, the true defense of the Indian is to respect him and to
guarantee his existence according to his own values. Until we, the “civilized” ones, create the proper conditions among
ourselves for the future integration of the Indians, any attempt to integrate
them is the same as introducing a plan for their destruction. We are not yet
sufficiently prepared.” (VILLAS BÔAS, Orlando;
VILLAS BÔAS, Cláudio. Xingu: the Indians, their myths. New York: Farrar,
Straus and Giroux, 1973, p. vii)
Leonardo, o mais jovem, faleceu em 1961, Cláudio, faleceu em 1998 e
Orlando o mais velho faleceu em 2002.
Os índios
Artigo de jornal da década de 1970
No aspecto dos índios, os irmãos Villas-Bôas implantaram uma nova
política indigenista, que, basicamente, consiste na defesa dos valores
culturais dos índios, como único meio de evitar a marginalização e o
desaparecimento dos grupos tribais. A partir da máxima segundo a qual “O
índio só sobrevive na sua própria cultura”, os irmãos Villas-Bôas
conseguiram implantar uma nova forma de relacionamento entre nossa sociedade e
as comunidades indígenas brasileiras. Essa política vem sendo esposada por
etnólogos e entidades científicas não só nacionais, como estrangeiras.
Os Villas-Bôas mostraram que a antiga visão que a sociedade nacional
tinha acerca do índio era absolutamente equivocada. Não se tratava, portanto,
de sociedades selvagens, sem regras e sem estrutura social como se narrava na
época do Descobrimento do Brasil. A nova imagem do índio, trazida pelos
Villas-Bôas à nossa sociedade, era a de uma sociedade equilibrada, estável,
erguida sobre sólidos princípios morais e donos de um comportamento ético que
sustentava uma organização tribal harmônica. A esse respeito Cláudio Villas-Bôas
teria dito certa feita:
“Se achamos que nosso objetivo aqui, na nossa rápida passagem pela
Terra, é acumular riquezas, então não temos nada a aprender com os índios. Mas
se acreditamos que o ideal é o equilíbrio do homem dentro de sua família e
dentro de sua comunidade, então os índios têm lições extraordinárias para nos
dar.” Cláudio Villas-Bôas
Fila de índios se apresentando
para cerimônia do Kuarup.
Parque Indígena do Xingu
Índios do xinguanos tocando a flauta do "Uruá"
A área do Parque Nacional do Xingu, hoje Parque Indígena do
Xingu, que conta com mais de 27 mil quilômetros quadrados, está
situado ao norte do estado de Mato Grosso, numa zona
de transição florística entre o planalto central e a Amazônia. A região, toda ela plana, onde
predominam as matas altas entremeadas de cerrados e campos, é cortada pelos formadores do Xingu
e pelos seus primeiros afluentes da direita e da esquerda. Os cursos formadores
são os Rios Kuluene, Ronuro e Batoví. Os afluentes, os Rios Suiá Miçu,
Maritsauá Miçu, Auaiá Miçu, Uaiá Miçu e o Jarina, próximo da cachoeira de Von Martius.
Localização do Parque Indígena do Xingu
Atualmente, vivem na área do Xingu, aproximadamente 5.500 índios de
catorze etnias diferentes pertencentes às quatro grandes
famílias linguísticas indígenas do Brasil: Carib, Aruak, Tupi, Jê. Centros de estudo, inclusive a UNESCO, consideram essa área como sendo o mais belo mosaico
linguístico puro do país. As tribos que vivem na região são: Kuikuro, Kalapálo,
Nafukuá, Matipú, Mehinaku, Awetí, Waurá, Yawalapiti, Kamayurá, Trumái, Suyá
(Kisedjê), Juruna (Yudjá), Txikão (Ikpeng), Kayabí, Mebengôkre e Kreen-Akarôre
(Panará).
Foi também Orlando Villas-Bôas e seu irmão Cláudio quem, por solicitação
do Marechal Rondon, plantou o Centro Geográfico Brasil, às margens do rio Xingu
(17.800 metros para o interior).
Parque Indígena do Xingu
O estabelecimento de campos de apoio e pontos de segurança de voo, na
rota do Brasil central, proporcionou à aeronáutica civil substancial economia
em horas de voo, principalmente nos cursos internacionais. E foram esses, sem
dúvida, os objetivos que levaram à instalação, hoje dos núcleos de proteção de
voo de Aragarças, Xavantina, Xingu, Cachimbo(hoje a maior base aérea
militar do Brasil) e Jacareacanga. Nesses trabalhos estiveram empenhados os
irmãos Villas-Bôas que, a partir de Xavantina, foram os responsáveis por toda
uma marcha desbravadora, como também, locação dos pontos e dos campos
pioneiros. Logicamente, tudo isso foi feito mediante pagamento de pesado
tributo, cobrado pelo sertão e suas áreas insalubres. Para testemunhar, duas
centenas de malárias que a cada um se registra.
Após encerrarem suas atividades no Parque Indígena do Xingu, os dois
Villas-Bôas (Orlando e Cláudio), aposentados, continuaram atuando como
assessores da presidência da Fundação Nacional
do Índio (Funai).
Estimativa dos trabalhos
realizados
Marco do centro geográfico brasileiro, plantado pelos irmãos Villas-Bôas
a pedido do Marechal Rondon
- Expedição Roncador-Xingu - picadas: cerca de 1.500 quilômetros;
- Rios navegados (explorados): cerca de mil quilômetros;
- Campos abertos (inclusive aldeias): dezenove;
- Campos (hoje bases militares para a segurança de vôo): quatro;
- Rio desconhecidos (levantados e explorados): seis;
- Marcos de coordenadas: seis;
- Tribos assistidas (aldeias): dezoito.
Esse intenso trabalho exploratório no interior do Brasil permitiu o
mapeamento de um território até então desconhecido.
Livros
- Xingu: The Indians, Their Myths - Nova Iorque: Farrar/Straus/Giroux, 1973.
- Os náufragos do rios das mortes e outras histórias - Porto Alegre: editora kuarup, 1988.
- Xingu: o velho káia - Porto Alegre: Kuarup, 1989.
- Xingu: os kayabí do rio São Manuel - Porto Alegre: kuarup, 1989.
- Xingu: os índios, seus mitos - Porto alegre: Kuarup, 1990.
- Xingu: os contos do tamoin - Porto Alegre: Kuarup, 1990.
- Xingu: histórias de índios e sertanejos - Porto Alegre: kuarup, 1992.
- Xingu: pueblos indios y sus mitos - Ecuador: Ediciones Abya-Yala, 1994.
- A marcha para o oeste - São Paulo: Editora Globo, 1995.
- Almanaque do sertão - São Paulo: Editora Globo, 1997.
- A arte dos pajés: impressões sobre o universo espiritual do índio xinguano - São Paulo: Editora Globo, 2000.
- Xingu: território tribal - São Paulo: Cultura Editores Associados, 1990. (fotos de Maureen Bisiliat).
- História e causos. São Paulo: FTD, 2005.
Homenagens
Os três Villas-Bôas receberam diversas homenagens em razão do trabalho
desenvolvido, depois do falecimento os irmãos receberam muitas outras láureas,
a título póstumo. Destacam-se entre elas:
Da esquerda para a direita: Willy Brandt
(ex-chanceler alemão e premiado com o Nobel da Paz), Richard von
Weizsäcker (presidente da Alemanha), Orlando Villas-Bôas em 1984
na Alemanha.
- Medalha do Fundador, concedida pela Royal Geographical Society of London, com a aprovação da Rainha da Inglaterra;
- As mais altas condecorações brasileiras como o “Grau Oficial da Ordem do Rio Branco” e "Grão Mestre da Ordem Nacional do Mérito" entre outras;
- Membros do "The Explorers Club of New York" ;
- Foi apresentado para o "Prêmio Nehhu da Paz" bem como para o "Prêmio Nobel da Paz" com indicações de Julian Huxley e Claude Lévi-Strauss.
Receberam, ainda, cinco títulos "Doutor Honoris Causa" de
universidades estaduais e federais brasileiras e algumas dezenas de títulos de
cidadãos honorários de todo território brasileiro.
Cronologia
Cláudio, Leonardo e Orlando
Vilas-boas (no destaque) com os pais, Agnello e Arlinda, e os irmãos Erasmo,
Acrísio, Maria de Lourdes, Álvaro e Nelson. Foto de 1924
- 1914 Nasce Orlando Villas-Bôas em Santa Cruz do Rio Pardo (SP)
- 1916 Nasce Cláudio Villas-Bôas em Botucatu (SP)
- 1918 Nasce Leonardo Villas-Bôas em Botucatu (SP)
- 1935 Orlando se alista no Exército
- 1939 Orlando é expulso do Exército por indisciplina
- 1941 Morte dos pais
- 1943 É criada a Expedição Roncador-Xingu
- 1944 O presidente Getúlio Vargas e o Ministro da Guerra Eurico Gaspar Dutra visitam a base principal da Expedição no Rio das Mortes
- 1945 O grupo atravessa o Rio das Mortes, e seus integrantes constróem o primeiro campo de pouso na área Xavante, o "Campo dos Índios"
- 1946 Primeiro contato dos Villas-Bôas com os Kalapalo, em seis de outubro
- 1947 Erguem o posto mais importante, o Jacaré ou Iacaré
- 1949 Fim da Expedição Roncador-Xingu
- 1950 Fazem contato com os Kayabi
- 1951 Abrem o campo de Cachimbo
- 1953 Os irmãos Cláudio e Orlando encontram e fazem amizade com os Txucarramãe
- 1954 O estado do Mato Grosso incentiva a ocupação de terras no Alto Xingu, os irmãos protestam por meio dos jornais.
- 1955 Uma epidemia de gripe atinge o Xingu. O Governo Federal apóia pela primeira vez a criação de uma reserva indígena
- 1956 Fazem uma expedição para contatar os Txikão (Ikpeng)
- 1958 Cláudio e Orlando organizam expedição para contatar os índios Suyá
- 1959 Encontram os índios Suyá
- 1960 A Expedição contata os índios Txikão
- 1960 Orlando e Cláudio são encarregados de marcar o centro geográfico do Brasil
Álvaro Villas-Bôas, o mais
novo dos irmãos não chegou a fazer trabalho de campo como os três irmãos mais velhos,
mas foi presidente da Funai na década de 1980.
- 1961 Criação do Parque Indígena do Xingu e morte de Leonardo Villas-Bôas. Leonardo morreu de miocardite reumática
- 1963 A enfermeira Marina Lopes de Lima chega ao Parque Indígena do Xingu
- 1964 Contato com os Txikão
- 1967 É criada a Funai e Orlando recusa a presidência do órgão
- 1969 Orlando e Marina se casam
- 1970 O casal vai para São Paulo para o nascimento do primeiro filho: Orlando Villas-Bôas Filho
- 1975 Nasce Noel Villas-Bôas - nome dado em homenagem ao sanitarista Noel Nutels, amigo do casal
- 1976 Cláudio e Orlando são indicados ao prêmio Nobel da Paz pela segunda vez pelo resgate das tribos xinguanas
- 1978 Orlando deixa o cargo de administrador do Xingu
- 1984 Álvaro é presidente da Funai
- 1984 Orlando aposenta-se
- 1998 Morre Cláudio Villas-Bôas, em março, e em julho os índios do Xingu fazem um Kuarup em sua homenagem
- 2000 Orlando é exonerado da Funai
- 2002 Morre Orlando Villas-Bôas, aos 88 anos, de falência múltipla dos órgãos
- 2003 O maior Kuarup de que se tem notícia é feito em homenagem a Orlando Villas-Bôas.
Aldeia Kamayurá, Alto-Xingu
Livros sobre os irmãos Villas-Bôas
- COWELL, Adrian. The decade of destruction. Londres: Headway, 1990.
- COWELL, Adrian. The tribe that hides from man. Londres: Pimlinco, 1995.
- COWELL, Adrian. The heart of the forest. Londres: Headway, 1970.
- DAVIS, Shelton. Victims of the miracle: development and the indians of Brazil. Nova York: Cambridge University Press, 1977
- HEMMING, John. Die if you must: brazilian Indians in the Twentieth Century. Londres: Macmillan, 2003.
- HEMMING, John; HUXLEY, Francis; FUERST, René; BROOKS, Edwin. Tribes of the Amazon Basin in Brazil 1972. London: Charles Knight & CO. LTD. 1973.
- LEOPOLD III OF BELGIUM. Indian enchantment. Nancy: Librarie Hachette, 1967.
- MENGET, Patrick. Au nom des autres: classification des relations sociales chez les Txicao du Haut-Xingu (Brésil). École Pratique des Hautes Études, VIème Section, 1977.
- MENGET, Patrick. Les Indiens du Haut Xingu. In: Hutter, M. Regards sur les Indiens d’Amazonie. Paris: Editions Muséum National d’Histoire Naturelle – Musée de l’Homme, 2000.
- VILLAS BÔAS FILHO, Orlando. Orlando Villas Bôas: expedições, reflexões e registros. São Paulo: Metalivros, 2006.
Filme
Em abril de 2012 foi lançado o longa-metragem Xingu, sobre a vida dos três
irmãos. Os irmãos Villas Boas foram interpretados por Felipe Camargo, João Miguel e Caio
Blat. Cao Hamburger dirigiu o
longa.
















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